18.11.04

Words and deeds

«Vem isto a propósito da minha antiga e sempre adiada ideia de colectar hinos desse mundo lá fora. Cito aquele blog que avançou primeiro com o tema (…) porque talvez sem isso ainda agora este nada urgente e desinteressante assunto continuasse adiado. Não é tarde nem é cedo, como se costuma dizer, vamos a isso que é uma pressa, etc. (…)
Não me atrevo a sequer tecer considerações sobre um hino nacional, seja ele qual for, mesmo tratando-se (…) de um país que já nem sequer existe.» [Esperando o tal Godot, ou isso]

Eis que My Moleskine, EIRL (um parêntesis para dar por demonstrado que os estabelecimentos individuais de responsabilidade limitada não são, contrariamente ao que se diz por aí, um mito urbano nem um devaneio legiferante) se associa ao monólogo de Esperando o tal Godot, ou isso, que leva já algumas linhas de avanço.
Devidamente colectados encontram-se os seguintes hinos: o da República Democrática da Alemanha, o da U.R.S.S. e a Marselhesa (aqui); e o da Carta Constitucional, o do Reino Unido e o dos Estados Unidos da América (aqui).
Sendo certo que o objectivo não é «promover os hinos de diversos países a certames competitivos, género festival da canção», consigo antever as manhãs gostosas que o nosso povo terá junto das máquinas de café por esses locais de trabalho fora. Não mais serão discutidos os resultados da empresa nem a unha encravada da telefonista - não, que agora a coisa é séria. Afinal, «o hino é a definição pela música do carácter dum povo. Tal é o compasso do hino nacional (…) tal é o movimento moral da nação» (Eça de Queirós, Os Maias), pelo que não faltará quem queira deitar as pátrias no divã e, puxando-lhes pelo hino, fazer-lhes o diagnóstico.
Mas a cadência não é tudo e também as letras se prestam à exegese, enquanto reflexo - mais ou menos fiel - da história dessas nações.



Brasil [ouvir o hino]

O Hino Nacional Brasileiro é, numa palavra, belíssimo. Mesmo quando mal assobiada, a música, de Francisco Manuel da Silva, continua a ser bonita, num misto de desafectação e de bom gosto. Os versos, da autoria de Joaquim Osório Estrada, depois de uma história pouco pacífica (relatada aqui e ali), encontraram uma versão definitiva que em nada fica a dever à do Hino à Bandeira, de Olavo Bilac (o outro, claro).

«Ouviram do Ipiranga às margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante,
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.

Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
Em teu seio ó liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!

Ó Pátria amada
Idolatrada
Salve! Salve!

Brasil de um sonho intenso, um raio vívido,
De amor e de esperança à terra desce
Se em teu formoso céu risonho e límpido
A imagem do Cruzeiro resplandece

Gigante pela própria natureza
És belo, és forte, impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza,

Terra adorada!
Entre outras mil
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada

Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada
Brasil!

Deitado eternamente em berço esplêndido,
ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!

Do que a terra mais garrida
Teus risonhos lindos campos tem mais flores,
"Nossos bosques tem mais
vida"
"Nossa vida" no teu seio "mais amores"

Ó Pátria amada
Idolatrada
Salve! Salve!

Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro dessa flâmula
- paz no futuro e glória no passado -

Mas se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme,
quem te adora, a própria morte,

Terra adorada!
Entre outras mil
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada

Dos filhos deste solo és mãe gentil
Pátria amada
Brasil!»

Continua.

Words and deeds (continuação)

O périplo prossegue. Ali ao lado, enquanto se espera o tal Godot, ou isso, o vizinho do blogbairro (sic), não só avançou com marchas militares (A Internacional, A Life On The Ocean Wave (25 de Abril), e The Stars and Stripes Forever), como fez um ponto da situação.

Por aqui, partimos do Brasil e cruzamos o Atlântico para chegar a Angola, porta de entrada na África lusófona. Os cinco hinos dos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP) podem - e talvez devam - ser vistos em conjunto, pese embora a natural singularidade de cada um. Mais ou menos poéticos, mais ou menos combativos, mais ou menos programáticos, mais ou menos bonitos, todos eles exaltam a independência conquistada.

O hino de Moçambique está em revisão (há uma Comissão Constitucional, e tudo) e, tanto quanto uma breve pesquisa permitiu apurar, será substituído em breve. Não obstante e para que o país fique representado, optei por coligi-lo na sua versão pós-independência. É, seguramente, o mais engajado. Frelimo, operários, camponeses, por um lado, e colonialismo, imperialismo, burguesia, por outro, servem de mote. Segue-se, talvez, o de Angola (letra de Manuel Rui Monteiro e música de Rui Mingas), que, partindo da evocação do Dia Nacional do Esforço Armado (4 de Fevereiro de 1961, data reclamada pelo MPLA como o início da luta armada em Angola), toca, en passant, a velha questão da unidade nacional e termina num apelo pela paz.
O hino de São Tomé e Príncipe (letra de Alda Graça Espírito Santo e música de Quintero Aguiar) fica a meio caminho entre os dois primeiros e os dois últimos, e não se pode dizer que prime pela beleza. A ideia é simples: povo, heroicidade, luta e independência; a concretização deixa um pouco a desejar.
De contrapeso servem os hinos da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, aparentemente reconciliados com o passado, menos comprometidos e, porventura, mais serenos. O hino guineense - com letra e música de Amílcar Cabral - foi, também, o de Cabo Verde até meados da década de 90, altura em que este país adoptou um hino com letra de Amílcar Spencer Lopes e música de Adalberto Higino Tavares Silva.
As versões dos hinos são instrumentais, dada a fraca qualidade das outras (quando as há).


Moçambique [ouvir o hino]

«Viva viva a Frelimo
Guia do povo moçambicano
Povo heróico qu' arma em punho
O colonialismo derrubou.
Todo o povo unido
desde o Rovuma até ao Maputo
luta contra o imperialismo
continua e sempre vencerá.

Viva Moçambique
viva a bandeira, símbolo Nacional
viva Moçambique
que por ti o povo lutaram
Unidos ao mundo inteiro
Lutando contra a burguesia
Nossa Pátria será túmulo
Do capitalismo e exploração
O povo moçambicano
d'operários e de camponeses
engajado no trabalho
a riqueza sempre brotaram.»



Angola [ouvir o hino]

Angola, avante

«Oh Pátria, nunca mais esqueceremos
os heróis do 4 de Fevereiro
Oh Pátria, nós saudamos os teus filhos
tombados pela nossa independência
Honramos o passado e a nossa história
construindo no trabalho o homem novo
Honramos o passado e a nossa história
construindo no trabalho o homem novo

Angola, avante!
Revolução, pelo poder popular
Pátria unida, liberdade
um só povo, uma nação.

Levantemos nossas vozes libertadas
para glória dos povos africanos
marchemos combatentes angolanos
solidários com os povos oprimidos

Orgulhosos lutaremos pela Paz
com as forças progressistas do Mundo
Orgulhosos lutaremos pela Paz
com as forças progressistas do mundo.»



São Tomé e Príncipe [ouvir o hino]

«Independência total,
Glorioso canto do povo,
Independência total,
Hino sagrado de combate.
Dinamismo
Na luta nacional,
Juramento eterno
No país soberano de São Tomé e Príncipe.

Guerrilheiro da guerra sem armas na mão,
Chama viva na alma do povo,
Congregando os filhos das ilhas
Em redor da Pátria Imortal.

Independência total, total e completa,
Construindo, no progresso e na paz,
A nação ditosa da Terra,
Com os braços heróicos do povo.

Independência total,
Glorioso canto do povo,
Independência total,
Hino sagrado de combate.

Trabalhando, lutando, presente em vencendo,
Caminhamos a passos gigantes
Na cruzada dos povos africanos,
Hasteando a bandeira nacional.

Voz do povo, presente, presente em conjunto,
Vibra rijo no coro da esperança
Ser herói no hora do perigo,
Ser herói no ressurgir do País.

Independência total,
Glorioso canto do povo,
Independência total,
Hino sagrado de combate.
Dinamismo
Na luta nacional,
Juramento eterno
No país soberano de São Tomé e Príncipe.»



Guiné Bissau [ouvir o hino]

«Sol, suor e o verde e mar,
Séculos de dor e esperança:
Esta é a terra dos nossos avós!
Fruto das nossas mãos,
Da flor do nosso sangue:
Esta é a nossa pátria amada.

Viva a pátria gloriosa!
Floriu nos céus a bandeira da luta.
Avante, contra o jugo estrangeiro!
Nós vamos construir
Na pátria imortal
A paz e o progresso!
Nós vamos construir
Na pátria imortal
A paz e o progresso! Paz e o progresso!

Ramos do mesmo tronco,
Olhos na mesma luz:
Esta é a força da nossa união!
Cantem o mar e a terra
A madrugada e o sol
Que a nossa luta fecundou.»



Cabo Verde [ouvir o hino]

«Canta, irmão
Canta, meu irmão
Que a liberdade é hino
E o Homem a certeza

Com dignidade, enterra a semente
No pó da ilha nua
No despenhadeiro da vida
A esperança é o tamanho do mar
que nos abraça.
Sentinela de mares e ventos
Perseverante
Entre estrelas e o Atlântico
Entoa o cântico da liberdade.

Canta, irmão
Canta, meu irmão
Que a liberdade é hino
E o Homem a certeza.»

Continua.

Words and deeds (especial aniversário)

No blog que tem o mais agustiniano dos nomes - Esperando o tal Godot, ou isso -, podeis escutar o hino de Timor Leste, nação que completa hoje dois anos de idade.

Já colectados estão, também, os hinos de Guam, Japão e Portugal.

Words and deeds (ponto da situação)

- Contributos para o «ensaio em parceria sobre nacional-hinologia» -

I - Hinos nacionais da R.D.A, da U.R.S.S. (este com uma belíssima versão coral de 1977, a que chegámos via Arcabuz, em 02.06.2004) e de França.
II - Hinos nacionais de Portugal (Hino da Carta Constitucional), do Reino Unido e dos EUA.
III - Hino nacional do Brasil.
IV - Marchas militares: A Internacional (em No Arame, em 17.05.2004, a versão coral em russo), A Life On The Ocean Wave (25 de Abril), The Stars and Stripes Forever.
V - Hinos nacionais dos PALOP (Moçambique, Angola, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Cabo Verde).
VI - Hino de Guam e hino nacional do Japão.
VII - Hino nacional de Portugal.
VIII - Hino nacional de Timor Lorosae.
IX - Hino nacional de Espanha.
X - Hino nacional de Itália.
XI - Hino da União Europeia.
XII - Hino nacional da Suécia.

Words and deeds (continuação)

Feito o ponto da situação, prossigo, em tempo de eleições para o Parlamento Europeu, com os hinos nacionais dos dez países que, a 1 de Maio de 2004, passaram a integrar a União Europeia. São poucos os hinos que conheço, mas noto, sem surpresa (basta pensar, aliás, na música tradicional e popular de alguns destes países), que são, em geral, muito bonitos.
Uma nota metodológica: escolhi as versões que, depois de alguma pesquisa, me pareceram as mais fidedignas, ainda que com prejuízo da acentuação; o mesmo direi quanto às traduções, cuja qualidade não verifiquei; não obstante as poucas palavras com que os brindo, ficam feitos os links para as fontes mais directas; por
último, o mais tentador - deter-me na história recente destes países, tendo como ponto de partida a génese e a evolução dos hinos nacionais - fica, com pena minha, por fazer.



Eslováquia [ouvir o hino]

O hino nacional da Eslováquia, bonito, em tons quase épicos, tem na sua origem uma canção popular (Kopala Studienku), adaptada, em 1844, pela mão de Janko Matuska. Em tempos de Checoslováquia (1918/1939 e 1945/1992), a primeira estrofe deste hino seguia a primeira estrofe do hino checo, e juntas formavam o hino checoslovaco, numa combinação, ao que parece, pouco harmoniosa.
Não exagero se disser que os eslovacos estimam o seu hino, sendo capazes de entoá-lo vezes sem conta, sempre emocionados, numa manhã de comemorações do 29 de Agosto, feriado que assinala o levantamento contra a ocupação nazi, em 1944 (Výrocie SNP). É vê-los, principalmente aos mais velhos, cantá-lo como se tivesse sido ontem.

«Nad Tatrou sa blýska, hromy divo bijú,
nad Tatrou sa blýska, hromy divo bijú.

Zastavme ich bratia, ved' sa ony stratia, Slováci ožijú,
zastavme ich bratia, ved' sa ony stratia, Slováci ožijú.

To Slovensko naše dosial' tvrdo spalo,
to Slovensko naše dosial' tvrdo spalo.

Ale blesky hromu vzbudzujú ho k tomu, aby sa prebralo,
ale blesky hromu vzbudzujú ho k tomu, aby sa prebralo.»

Tradução para inglês:

«Lightning flashes over the Tatra, the thunder pounds wildly.
Lightning flashes over the Tatra, the thunder pounds wildly.

Let them stop, brothers, they will surely disappear, the Slovaks will revive.
Let them stop, brothers, they will surely disappear, the Slovaks will revive.

This Slovakia of ours has been fast asleep until now.
This Slovakia of ours has been fast asleep until now.

But the thunder and lightning are encouraging it to come alive.
But the thunder and lightning are encouraging it to come alive.»



República Checa [ouvir o hino]

Embora só tenha sido reconhecido por volta de 1918, o poético e sereno hino da República Checa foi composto alguns anos antes, no segundo quartel do século XIX, por Josef Kajetán Tyl (letra) e Frantisek Jan Skroup (música). A sua história conta que o hino conheceu várias versões, consoante a época e os desígnios do povo, razão que talvez explique a dificuldade em encontrar uma versão coral do mesmo.

«Kde domov muj, kde domov muj?
Voda hucí po lucinách,
Bory sumí po skalinách,
V sade skví se jara kvet,
Zemsky ráj to na pohled!
A to je ta krásná zeme,
Zeme ceská, domov muj,
Zeme ceská, domov muj!

Kde domov muj, kde domov muj?
V kraji znás-li bohumilém
Duse utlé v tele cilém,
Mysl jasnou, vznik a zdar,
A tu sílu vzdoru zmar!
To je Cechu slavné pléme,
Mezi Cechy domov muj,
Mezi Cechy domov muj.»

Tradução para inglês da primeira e da segunda estrofes:

«Where is my home, where is my home?
The water hums over the meadows,
The pines whisper over the mountains,
The flower blooms in the orchard in the spring,
It's a heaven on earth to look at it.
And that is the beautiful country,
The Czech country, my home.
The Czech country, my home.

Where is my home, where is my home?
If, in a heavenly land, you have met
Tender souls in agile frames,
Of clear mind, vigorous and prospering,
And with a strength that frustrates all defiance,
That is the glorious race of Czechs,
Among Czechs (is) my home,
Among Czech, my home.»



Hungria [ouvir o hino]

Para terminar, uma pérola: o hino nacional húngaro. Os versos foram escritos em 1823, por Ferenc Kölcsey (1790-1838), um dos grandes poetas de então. Publicados em 1828, só conheceram a música quando o compositor e maestro Ferenc Erkel (1810-1893) a compôs, em 1844, depois de ter ganho o concurso para esse efeito. Reconhecido oficialmente em 1903, o hino da Hungria tem oito estrofes, das quais apenas a primeira é habitualmente tocada.

«Isten, áldd meg a magyart
Jó kedvvel, boséggel,
Nyújts feléje védo kart,
Ha küzd ellenséggel;
Bal sors akit régen tép,
Hozz rá víg esztendot,
Megbünhödte már e nép
A multat s jövendot!

Oseinket felhozád
Kárpát szent bércére,
Általad nyert szép hazát
Bendegúznak vére.
S merre zúgnak habjai
Tiszának, Dunának,
Árpád hos magzatjai
Felvirágozának.

Értünk Kunság mezein
Ért kalászt lengettél,
Tokaj szolovesszein
Nektárt csepegtettél.
Zászlónk gyakran plántálád
Vad török sáncára,
S nyögte Mátyás bús hadát
Bécsnek büszke vára.

Hajh, de boneink miatt
Gyúlt harag kebledben,
S elsújtád villámidat
Dörgo fellegedben,
Most rabló mongol nyilát
Zúgattad
felettünk,
Majd töröktol rabigát
Vállainkra vettünk.

Hányszor zengett ajkain
Ozman vad népének
Vert hadunk csonthalmain
Gyozedelmi ének!
Hányszor támadt tenfiad
Szép hazám kebledre,
S lettél magzatod miatt
Magzatod hamvedre!

Bújt az üldözött s felé
Kard nyúl barlangjában,
Szerte nézett s nem lelé
Honját a hazában,
Bércre hág és völgybe száll,
Bú s kétség mellette,
Vérözön lábainál,
S lángtenger fölötte.

Vár állott, most kohalom,
Kedv és öröm röpkedtek,
Halálhörgés, siralom
Zajlik már helyettek.
S ah, szabadság nem virúl
A holtnak vérébol,
Kínzó rabság könnye hull
Árvánk ho szemébol!

Szánd meg isten a magyart
Kit vészek hányának,
Nyújts feléje védo kart
Tengerén kínjának.
Bal sors akit régen tép,
Hozz rá víg esztendot,
Megbünhödte már e nép
A multat s jövendot!»

A histórica tradução para inglês, de William N. Loew (1881):

«O my God, the Magyar bless
With Thy plenty and good cheer!
With Thine aid his just cause press,
Where his foes to fight appear.
Fate, who for so long didst frown,
Bring him happy times and ways;
Atoning sorrow hath weighed
down
Sins of past and future days.

By Thy help our fathers gained
Kárpát's proud and sacred height;
Here by Thee a home obtained
Heirs of Bendegúz, the knight.
Where're Danube's waters flow
And the streams of Tisza swell,
Árpád's children, Thou dost know,
Flourished and did prosper well.

For us let the golden grain
Grow upon the fields of Kún,
And let Nectar's silver rain
Ripen grapes of Tokay soon.
Thou our flags hast planted o'er
Forts where once wild Turks held sway;
Proud Vienna suffered sore
From King Mátyás' dark array.

But, alas! for our misdeed,
Anger rose within Thy breast,
And Thy lightnings Thou didst speed
From Thy thundering sky with zest.
Now the Mongol arrow flew
Over our devoted heads;
Or the Turkish yoke we knew,
Which a free-born nation dreads.

Oh, how often has the voice
Sounded of wild Osman's hordes,
When in songs they did rejoice
O'er our heroes' captured swords!
Yea, how often rose thy sons,
My fair land, upon thy sod,
And thou gavest to these sons,
Tombs
within the breast they trod!

Though in caves pursued he lie,
Even there he fears attacks.
Coming forth the land to spy,
Even a home he finds he lacks.
Mountain, valego where he would,
Grief and sorrow all the same
Underneath a sea of blood
While above a sea of flame.

'Neath the fort, a ruin now,
Joy and pleasure erst were found,
Only groans and sighs, I trow,
In its limits now abound.
But no freedom's flowers return
From the spilt blood of the dead,
And the tears of slavery burn,
Which the eyes of orphans shed.

Pity, God, the Magyar, then,
Long by waves of danger tossed;
Help him by Thy strong hand when
He on grief's sea may be lost.
Fate, who for so long did frown,
Bring him happy times and ways;
Atoning sorrow hath weighed down
All the sins of all his days.»

Continua.

Words and deeds (especial Euro 2004)

É uma pena que a Croácia não tenha entrado para a União Europeia. Caso contrário, esta escolha faria mais sentido. Assim não sendo, terei de explicar que conheci, há umas horas, uns adeptos da selecção croata de futebol. Afáveis, ainda com um ar lavadinho, não andavam em tronco nu nem cheiravam a cerveja. Sucede que estavam perdidos, não sabiam onde jantar nem o que fazer até serem horas de apanhar o comboio. E eu lembrei-me da carta que o senhor ministro adjunto do primeiro-ministro teve a amabilidade de me escrever e lá demonstrei a minha «intrínseca e cordial hospitalidade». Assim, sem mais. Eles devem ter ficado gratos, pelo que, em vez de aceitar o convite para jantar, acabei por pedir-lhes que entoassem o hino croata (espero que o dr. Arnaut não se importe), o que fizeram com entusiasmo. Em demasia, acrescente-se. O suficiente para me envergonharem, portanto.


República da Croácia [ouvir o hino]

A versão
instrumental que aqui deixo é um tudo nada mais vagarosa do que aquela que me foi cantada. A letra de Lijepa naša domovino foi escrita por Antun Mihanovic, em 1835, e é - como os croatas que conheci - entusiasta, pacifista. A música, composta por Josip Runjanin em 1846, diz-se ser inspirada na melodia da ópera Lucia di Lammermoor de Donizetti, facto que não posso, neste
momento, confirmar. Adoptado na segunda metade do século XIX, este hino voltou a sê-lo em 1990, antes de a Croácia proclamar a sua independência.

«Lijepa naša Domovino,
Oj junacka zemljo mila,
Stare slave djedovino,
Da bi vazda sretna bila!

Mila kano si nam slavna,
Mila si nam ti jedina,
Mila kuda si nam ravna,
Mila kuda si planina!

Teci Savo, Dravo teci,
Nit ti, Dunav, silu gubi!
Sinje more, svijetu reci,
Da svoj narod Hrvat ljubi!

Dok mu njive sunce grije,
Dok mu hrašce bura vije,
Dok mu mrtve grobak krije,
Dok mu živo srce bije!»

Tradução para inglês:

«Our beautiful homeland,
Oh dear, heroic land,
Fatherland of ancient glory,
May you always be happy!

Dear, as much as you are glorious,
Only you are dear to us.
Dear, where your land is flat,
Dear, where it is mountainous.

Flow Drava, Sava flow,
Nor you, Danube, lose your power!
Azure sea, tell to the world
That a Croat loves his nation!

As long as the sun warms his ploughed land,
As long as storms lash his oak trees,
As long as graves hide his dead,
As long as his living heart beats!»