Words and deeds
«Vem isto a propósito da minha antiga e sempre adiada ideia de colectar hinos desse mundo lá fora. Cito aquele blog que avançou primeiro com o tema (…) porque talvez sem isso ainda agora este nada urgente e desinteressante assunto continuasse adiado. Não é tarde nem é cedo, como se costuma dizer, vamos a isso que é uma pressa, etc. (…)
Não me atrevo a sequer tecer considerações sobre um hino nacional, seja ele qual for, mesmo tratando-se (…) de um país que já nem sequer existe.» [Esperando o tal Godot, ou isso]
Eis que My Moleskine, EIRL (um parêntesis para dar por demonstrado que os estabelecimentos individuais de responsabilidade limitada não são, contrariamente ao que se diz por aí, um mito urbano nem um devaneio legiferante) se associa ao monólogo de Esperando o tal Godot, ou isso, que leva já algumas linhas de avanço.
Devidamente colectados encontram-se os seguintes hinos: o da República Democrática da Alemanha, o da U.R.S.S. e a Marselhesa (aqui); e o da Carta Constitucional, o do Reino Unido e o dos Estados Unidos da América (aqui).
Sendo certo que o objectivo não é «promover os hinos de diversos países a certames competitivos, género festival da canção», consigo antever as manhãs gostosas que o nosso povo terá junto das máquinas de café por esses locais de trabalho fora. Não mais serão discutidos os resultados da empresa nem a unha encravada da telefonista - não, que agora a coisa é séria. Afinal, «o hino é a definição pela música do carácter dum povo. Tal é o compasso do hino nacional (…) tal é o movimento moral da nação» (Eça de Queirós, Os Maias), pelo que não faltará quem queira deitar as pátrias no divã e, puxando-lhes pelo hino, fazer-lhes o diagnóstico.
Mas a cadência não é tudo e também as letras se prestam à exegese, enquanto reflexo - mais ou menos fiel - da história dessas nações.
Brasil [ouvir o hino]
O Hino Nacional Brasileiro é, numa palavra, belíssimo. Mesmo quando mal assobiada, a música, de Francisco Manuel da Silva, continua a ser bonita, num misto de desafectação e de bom gosto. Os versos, da autoria de Joaquim Osório Estrada, depois de uma história pouco pacífica (relatada aqui e ali), encontraram uma versão definitiva que em nada fica a dever à do Hino à Bandeira, de Olavo Bilac (o outro, claro).
«Ouviram do Ipiranga às margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante,
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.
Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
Em teu seio ó liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!
Ó Pátria amada
Idolatrada
Salve! Salve!
Brasil de um sonho intenso, um raio vívido,
De amor e de esperança à terra desce
Se em teu formoso céu risonho e límpido
A imagem do Cruzeiro resplandece
Gigante pela própria natureza
És belo, és forte, impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza,
Terra adorada!
Entre outras mil
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada
Brasil!
Deitado eternamente em berço esplêndido,
ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!
Do que a terra mais garrida
Teus risonhos lindos campos tem mais flores,
"Nossos bosques tem mais
vida"
"Nossa vida" no teu seio "mais amores"
Ó Pátria amada
Idolatrada
Salve! Salve!
Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro dessa flâmula
- paz no futuro e glória no passado -
Mas se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme,
quem te adora, a própria morte,
Terra adorada!
Entre outras mil
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada
Dos filhos deste solo és mãe gentil
Pátria amada
Brasil!»
Continua.
Não me atrevo a sequer tecer considerações sobre um hino nacional, seja ele qual for, mesmo tratando-se (…) de um país que já nem sequer existe.» [Esperando o tal Godot, ou isso]
Eis que My Moleskine, EIRL (um parêntesis para dar por demonstrado que os estabelecimentos individuais de responsabilidade limitada não são, contrariamente ao que se diz por aí, um mito urbano nem um devaneio legiferante) se associa ao monólogo de Esperando o tal Godot, ou isso, que leva já algumas linhas de avanço.
Devidamente colectados encontram-se os seguintes hinos: o da República Democrática da Alemanha, o da U.R.S.S. e a Marselhesa (aqui); e o da Carta Constitucional, o do Reino Unido e o dos Estados Unidos da América (aqui).
Sendo certo que o objectivo não é «promover os hinos de diversos países a certames competitivos, género festival da canção», consigo antever as manhãs gostosas que o nosso povo terá junto das máquinas de café por esses locais de trabalho fora. Não mais serão discutidos os resultados da empresa nem a unha encravada da telefonista - não, que agora a coisa é séria. Afinal, «o hino é a definição pela música do carácter dum povo. Tal é o compasso do hino nacional (…) tal é o movimento moral da nação» (Eça de Queirós, Os Maias), pelo que não faltará quem queira deitar as pátrias no divã e, puxando-lhes pelo hino, fazer-lhes o diagnóstico.
Mas a cadência não é tudo e também as letras se prestam à exegese, enquanto reflexo - mais ou menos fiel - da história dessas nações.
Brasil [ouvir o hino]
O Hino Nacional Brasileiro é, numa palavra, belíssimo. Mesmo quando mal assobiada, a música, de Francisco Manuel da Silva, continua a ser bonita, num misto de desafectação e de bom gosto. Os versos, da autoria de Joaquim Osório Estrada, depois de uma história pouco pacífica (relatada aqui e ali), encontraram uma versão definitiva que em nada fica a dever à do Hino à Bandeira, de Olavo Bilac (o outro, claro).
«Ouviram do Ipiranga às margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante,
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.
Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
Em teu seio ó liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!
Ó Pátria amada
Idolatrada
Salve! Salve!
Brasil de um sonho intenso, um raio vívido,
De amor e de esperança à terra desce
Se em teu formoso céu risonho e límpido
A imagem do Cruzeiro resplandece
Gigante pela própria natureza
És belo, és forte, impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza,
Terra adorada!
Entre outras mil
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada
Brasil!
Deitado eternamente em berço esplêndido,
ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!
Do que a terra mais garrida
Teus risonhos lindos campos tem mais flores,
"Nossos bosques tem mais
vida"
"Nossa vida" no teu seio "mais amores"
Ó Pátria amada
Idolatrada
Salve! Salve!
Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro dessa flâmula
- paz no futuro e glória no passado -
Mas se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme,
quem te adora, a própria morte,
Terra adorada!
Entre outras mil
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada
Dos filhos deste solo és mãe gentil
Pátria amada
Brasil!»
Continua.